
Dez dias depois da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na superintendência da PF (Polícia Federal), o clã formado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e seus enteados já enfrentam obstáculos nas tratativas políticas.
Condenado a 27 anos de prisão por participar de um plano de golpe de Estado, Bolsonaro está preso desde 22 de novembro — além de inelegível. Conforme mostrou a CNN Brasil, a saída do ex-presidente do cenário eleitoral deve levar à disputa entre aqueles que se consideram seus herdeiros políticos.
Entenda abaixo, em cinco pontos, o que é considerado o primeiro racha no clã desde a prisão do ex-presidente:
Apoio do PL a Ciro
A origem da crise se deu quando o diretório do PL no Ceará decidiu declarar apoio a uma eventual candidatura de Ciro Gomes (PSDB).
Ao deixar o PDT, Ciro oficializou sua ida ao PSDB em outubro, quando realizou evento para assinar sua ficha de filiação.
No evento, além das lideranças tucanas, estavam presentes representantes de partidos de oposição ao atual governador do estado, Elmano de Freitas (PT).
Dentre os integrantes de outros partidos que marcaram presença, estava o deputado federal André Fernandes (PL-CE), que é presidente estadual do PL no estado.
Em declarações recentes, Fernandes tem dito que o próprio Bolsonaro havia dado o aval para o partido se aliar a Ciro.
"O próprio presidente Bolsonaro pediu para a gente ligar para o Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que nós apoiaríamos Ciro Gomes [...] O acordo era: é muito ruim para Jair Bolsonaro se aproximar de Ciro Gomes, coloca o André, que, qualquer pancada, o André aguenta", Fernandes disse a jornalistas.
Segundo o deputado, o objetivo é "derrotar o PT" no Ceará. Além disso, ele afirmou que a legenda precisa de um candidato forte em todos os estados para apoiar Bolsonaro ou o seu sucessor na disputa pela Presidência.
Apesar de estar em alta nos últimos dias, a aproximação de Ciro com o PL não é recente. No ano passado, o ex-governador já havia marcado presença em eventos ao lado de políticos do partido — o que contrasta com as suas posições ao longo da campanha presidencial de 2022.
Críticas de Michelle
O apoio, no entanto, não agradou a todos os aliados de Bolsonaro. No domingo (30), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou a postura do partido ao apoiar Ciro.
Durante o evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao cargo de governador do Ceará, Michelle disse que houve uma precipitação na decisão de apoiar Ciro, em uma crítica ao deputado André Fernandes, responsável pela articulação.
"Adoro o André [Fernandes], passei em todos os estados falando sobre o orgulho que tenho dele, do Nikolas [Ferreira, deputado federal], do Carmelo [Neto, deputado estadual], da esposa dele que foi eleita, tenho orgulho de vocês, mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá!", declarou Michelle, que também é presidente do PL Mulher, ala feminina do partido.
A declaração da ex-primeira-dama faz menção aos diversos ataques feitos por Ciro a Jair Bolsonaro nos últimos anos.
Em mais de uma ocasião, Ciro teceu críticas ao então presidente, chamando-o de "ladrão da rachadinha", referente às investigações contra Carlos e Flávio Bolsonaro por suposto envolvimento em um esquema de rachadinhas.
O tucano também já fez diversas cobranças ao ex-mandatário por sua gestão na pandemia, que deixou mais de 700 mil mortos no Brasil.
Atrito entre Michelle e filhos de Bolsonaro
A crise atingiu o seu ápice quando o embate passou a ser entre Michelle e os filhos do marido. As declarações da ex-primeira-dama não agradaram os enteados, que se posicionaram publicamente contra ela.
O primeiro a criticar a madrasta foi o senador Flávio Bolsonaro.
Em entrevista ao portal Metrópoles, Flávio disse que Michelle "atropelou" Bolsonaro: "A forma com que ela se dirigiu a ele [André Fernandes], que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora".
Depois, a fala do irmão mais velho foi endossada pelos demais nas redes sociais.
Eduardo, que está nos Estados Unidos desde o início do ano, disse que o episódio foi "injusto" e "desrespeitoso" e destacou que a decisão de apoiar Ciro foi uma "posição definida" pelo pai.
Sem citar o nome de Michelle, Carlos também comentou o ocorrido e falou em respeito à liderança de Bolsonaro, sem deixar se levar por "outras forças".
Pedido de perdão e reconciliação
Na madrugada desta terça (2), Michelle publicou uma nota pedindo perdão aos enteados e dizendo que não era sua intenção contrariá-los.
Na nota, contudo, a ex-primeira-dama seguiu criticando o apoio a Ciro Gomes. "Como ficar feliz com o apoio à candidatura de um homem que xinga o meu marido o tempo todo de ladrão de galinha, de frouxo e tantos outros xingamentos?", escreveu.
Michelle disse respeitar a opinião dos enteados, mas destacou que pensa diferente e tem o direito de pensar dessa forma.
Depois que a nota foi divulgada, o senador Flávio Bolsonaro afirmou à CNN Brasil que ele e a presidente do PL Mulher haviam se resolvido.
“Eu conversei longamente com a Michelle ontem. Nós nos resolvemos e expliquei a ela que não havia nenhuma decisão tomada sobre palanques, nem no Ceará nem em nenhum outro estado”, declarou o congressista.
O filho mais velho de Bolsonaro disse ainda que analisará os cenários em todos os estados com a participação de Michelle. Porém, segundo ele, a decisão final partirá do pai, que está preso.
Estratégia do PL
Embora, de acordo com Flávio, ele e Michelle tenham se resolvido, o PL marcou uma reunião de emergência para esta terça (2) para acalmar os ânimos.
A declaração da ex-primeira-dama não causou mal-estar apenas entre com os enteados, mas com a cúpula nacional do partido, que havia aprovado o apoio a Ciro.
Conforme apurou a CNN Brasil, a avaliação de integrantes do comando da sigla é de que a esposa de Bolsonaro acabou com qualquer chance que ela tinha de compor uma chapa para a disputa presidencial em 2026.
Os membros do partido têm defendido que Michelle seja "enquadrada" e que fique fora dos assuntos eleitorais. Além disso, o PL deve empoderar Flávio Bolsonaro como o principal interlocutor do pai.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pretende alertar Michelle de que manifestações sobre eleições e decisões do partido devem, necessariamente, passar por ele e por Flávio.



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